Monday, November 8, 2010

ESTORIL FILM FESTIVAL: THE BUTTERFLY EFFECT - A MASTER CLASS BY BALTASAR GARZÓN


Photo by Joao Lamares photography
Yesterday, Sunday, I had the opportunity to attend one of the Estoril Film Festival's highlights, a master class with the Spanish judge Baltasar Garzon who I am a great fan. A standing ovation was heard in the crowded amphitheater of the Estoril Congress center to welcome the Spanish super judge seated on Spain's Central Criminal Court, the Audiencia Nacional. For the more distracted Baltasar Garzon was the examining magistrate of the “Juzgado Central de Instrucción No. 5”, which investigates the most important criminal cases in Spain, including terrorism, organized crime and money laundering. But he became famous on 10 October 1998 when he issued an international warrant for the arrest of former Chilean president, general Augusto Pinochet for the alleged deaths and torture of Spanish citizens. Garzón was indicted in April 2010 for exceeding his authority when investigating crimes committed by the Franco regime that were included in an amnesty, and suspended on 14 May 2010, pending trial. He has been given permission to work at the International Criminal Court in The Hague for 7 months from May 2010. This weekend, Baltasar Garzon was honored at Estoril Film Festival, which aired two documentaries by Vicente Romero with the participation of the judge, about the Argentine and Chilean dictatorial regimes and the fight against terrorism.


In his master class Garzón spoke about the importance of images in the formation of collective memory, his experiences in the fight against impunity of crimes against humanity, the silence of Spain against the "taboo" of what happened in the dark period of Franco regime, the reducing of the Universal justice's concept and other important social and political issues. Baltasar Garzón criticized very hardly the Spanish state, politicians, cultural and social powers because their blindness and silence about the atrocities against Spanish people during the Franco regime. In the judge's words politicians and society in general have always buried their heads in the sand, concealing and silencing the history of Spain during and after the Civil War. When asked about why this happens, Garzón replied that Spain wants to convey a European image of modernity that does not agree with the radicalism and cruelty of what happened in the Franco's time that plunged Spain for 40 years in a regime of terror. In his words the transition time never happens in Spain, as Africa do Sul (he is a great fan of Mandela) and Argentina did so well. A society that does not want to know what happened in the Past is very dangerous because never happen such a reconciliation with that Past. When you do not learn from past mistakes because they are vehemently denied, the future may be compromised and the same or other more serious mistakes could again be committed.

I found the Baltasar Garzon's point of view very interesting about what he calls the butterfly effect as an instrument to combat indifference. Indifference is the great danger in our society which can make the returning of dictatorial regimes and made serious injuries to the most fundamental human rights, even in countries that live under the most consolidated democratic regime. So to combat the indifference based in the lack of honesty, the lack of ethics and responsibility, the lack of respect for the common good and intolerance, we all must do what we should; Each singular action, for minimum it seems, will have repercussions far away and it's the only way to restore the solid values that allow to fight the indifference about human rights violations that take place around the world. Currently, political power, solely concerned with the election returns of their actions, not serve to build a more just, humane, tolerant and responsible future. Education and information are the most effective instruments for moving towards this future. And it depends on each and every one of us. Every person, every butterfly that flaps its wings against the indifference, could instigate others actions and its effects will be felt in Afghanistan, Sudan, Palestine ... and each one of us could help with a single wings' flap fight against impunity of those who are/were responsible for all those crimes against humanity.

Portuguese version below


Photo by Joao Lamares Photography
 Ontem, Domingo, tive a oportunidade de assistir a um dos momentos altos do Estoril Film Festival, a masterclass com o juiz espanhol Baltasar Gárzon. Muitas e ruidosas palmas entoaram no anfiteatro do Centro de Congressos do Estoril, para receber o superjuiz acérrimo defensor da justiça universal e dos direitos das vítimas das mais agrestes ditaduras e do crime organizado no mundo inteiro. Durante mais de uma década, sempre sob forte crítica e ameaças, acusou o ex-ditador chileno Augusto Pinochet, investigou os crimes da ETA e também do Estado espanhol contra a ETA, abriu um processo contra a Al-Qaeda e outro contra os americanos em Guantánamo. Mas, quando começou a investigar os desaparecimentos em Espanha durante o franquismo, foi suspenso das suas actividades. Trabalha agora como consultor do Tribunal Penal Internacional.


Este fim de semana, foi homenageado no Estoril Film Festival, que exibiu dois documentários de Vicente Romero com a participação do juiz, sobre as ditaduras argentina e chilena e a luta contra o terrorismo.




Na sua masterclass, Baltasar Garzòn falou sobre a importância das imagens na formação da memória colectiva, as suas experiências na luta contra a impunidade perante crimes contra a humanidade, o silêncio da Espanha face ao “tabu” do que aconteceu no período negro do Franquismo, a regressão do conceito de justiça universal entre outros assuntos.

Em relação a Espanha, Baltasar Gárçon que viu a sua actividade suspensa como juiz por ter começado a investigar os crimes franquistas, nomeadamente, o desaparecimento de cerca de 130 mil a150 mil espanhóis durante os 40 anos de ditadura de Franco, não poupou criticas ao poderes políticos e sociedade em geral que sempre enterraram a cabeça na areia, ocultaram e silenciaram a história da Espanha durante e após a Guerra Civil. Quando instado sobre a razão disso acontecer, Garzón respondeu que a Espanha pretende transmitir uma imagem europeia de modernidade a que não convêm que se desenterrem os mortos chacinados pelo franquismo, escondendo uma Espanha radical que permaneceu mais de quatro décadas reclusa de umas das ditaduras mais cruéis do mundo.

Para Baltasar Garzón uma sociedade que não quer saber do que se passou no seu passado é um sinal grave, nunca se fez a transição em Espanha, pelo que falta essa reconciliação com o Passado. Quando não se aprende com os erros cometidos no passado porque estes são veementemente negados, o futuro pode estar comprometido e os mesmos erros ou outros mais graves poderão voltar a ser cometidos. Fala a Espanha essa reconciliação e a consequente dignificação da justiça e das instituições.

Admirador de Nelson Mandela, para Garzón a forma única como Mandela conseguiu fazer a difícil transição na África do Sul, cujo êxito de ficou a dever ao facto de se sacarem responsabilidades aos autores dos crimes cometidos e obrigando-os a pedirem perdão às vítimas, permitiu a reconciliação da sociedade com o apartheid e caminharem no sentido de construção do futuro. O Juiz apontou também a Argentina como exemplo de sucesso na sua transição e no caminho para a dignificação da justiça.

Achei muito interessante a visão de Baltasar Garzón ao que ele chama o efeito mariposa no combate à indiferença que é o grande perigo na nossa sociedade de voltarem a surgir regimes ditatoriais e ofensas graves aos direitos humanos mais fundamentais, mesmo em países que vivem sob o regime democrático consolidado. Assim, para combater essa indiferença perante a falta de honestidade e de uma ética da responsabilidade, a falta de respeito pelo bem comum e a intolerância que grassam na nossa sociedade, todos temos que fazer o que nos compete e que cada acção individual e concreta, por mínima que pareça, vai ter repercussões em cadeia e só assim podemos restabelecer os valores que permitem combater a indiferença perante as violações aos direitos humanos que se sucedem em todo o mundo. Actualmente, os poderes políticos, unicamente preocupados com a rentabilidade eleitoral que as suas acções possam vir a representar, não servem para construir um futuro mais justo, solidário, tolerante e responsável. Nisso a educação e a informação é o instrumento mais eficaz para caminharmos para esse futuro. E isso depende de todos e de cada um de nós. Cada pessoa, cada borboleta que bate as asas contra a indiferença, instiga a que se continue a lutar e os seus efeitos irão ser sentidos no Afeganistão, no Sudão, Palestina… na luta global contra a impunidade dos responsáveis por crimes contra a humanidade.

Text by Paula Lamares
Photos by Joao Lamares

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